sábado, abril 05, 2003

Triunfo militar rápido será um álibi para o presidente Bush disciplinar com mais força os excessos emancipadores da própria sociedade norte-americana


IRAQUE PRÓ E CONTRA



por Slavoj Zizek


John Moore - 19.mar.2003/Associated
John Moore - 19 mar 2003/Associated
Soldados americanos rezam
durante tempestade de areia
na fronteira entre o Kwait e o Iraque





O único bom argumento para atacar o Iraque é que a maioria dos iraquianos realmente é vítima de Saddam Hussein e ficaria muito feliz por se livrar dele. Ele foi uma tal catástrofe para seu país que uma ocupação americana de qualquer forma pode parecer uma perspectiva muito mais positiva para eles em relação à sobrevivência diária e a um nível de medo muito menor. Não estamos falando aqui em "levar a democracia ocidental ao Iraque", mas apenas em livrar-se do pesadelo chamado Saddam.
Para essa maioria, a cautela manifestada pelos liberais ocidentais só pode parecer profundamente hipócrita -eles realmente se importam com o que a população iraquiana sente?
Podemos até propor um argumento mais geral: o que dizer dos esquerdistas ocidentais pró-Fidel que desprezam os que os próprios cubanos chamam de "gusanos" (vermes), aqueles que emigraram -mas, com toda a simpatia pela Revolução Cubana, que direito um típico esquerdista ocidental de classe média tem de desprezar um cubano que decidiu deixar Cuba não apenas por causa da desilusão política, mas também por causa da pobreza que chega à simples fome?
Lembro que no início da década de 1990 dezenas de esquerdistas ocidentais orgulhosamente atiraram em meu rosto que, para eles, a Iugoslávia ainda existia e me criticaram por trair a oportunidade única de manter a Iugoslávia -ao que sempre respondia que ainda não estava preparado para conduzir minha vida de modo a não desapontar os sonhos dos esquerdistas ocidentais...
Existem efetivamente poucas coisas mais dignas de desprezo, poucas atitudes mais ideológicas (se essa palavra tem algum significado hoje, deve ser aplicado aqui) que um catedrático acadêmico ocidental de esquerda que arrogantemente despreza (ou, pior ainda, "compreende" de forma condescendente) um europeu oriental de um país comunista que anseia pela democracia liberal ocidental e alguns bens de consumo...
No entanto é fácil demais passar desse fato à idéia de que "no fundo os iraquianos são como nós e realmente querem o mesmo que nós". A velha história se repetirá: os EUA levam às pessoas uma nova esperança e a democracia, mas, ao invés de saudar o Exército americano, a população ingrata o rejeita, suspeita de um presente dentro do presente, e então os EUA reagem como uma criança magoada pela ingratidão daqueles a quem ajudou altruisticamente.
A pressuposição subjacente é antiga: no fundo, se rasparmos a superfície, somos todos americanos, esse é o nosso verdadeiro desejo -então é preciso apenas dar uma oportunidade às pessoas, libertá-las das restrições impostas, que elas se unirão a nós em nosso sonho ideológico... Não admira que em fevereiro passado um deputado americano tenha usado o termo "revolução capitalista" para descrever o que os americanos estão fazendo hoje: exportando sua revolução para o mundo todo. Não admira terem passado da contenção do inimigo para uma posição mais agressiva.
Os EUA é que são hoje, como a finada União Soviética décadas atrás, o agente subversivo de uma revolução mundial. Quando Bush disse recentemente que "a liberdade não é um presente dos EUA para outros países, é um presente de Deus para a humanidade", essa aparente modéstia, na melhor maneira totalitária, oculta seu oposto: sim, mas não obstante são os EUA que se consideram o instrumento escolhido para distribuir esse presente a todas as nações do mundo! A idéia de "repetir o Japão em 1945", de levar a democracia ao Iraque, que então servirá de modelo para todo o mundo árabe, permitindo que as populações se livrem dos regimes corruptos, enfrenta imediatamente um obstáculo insuperável: e a Arábia Saudita, que por interesse vital dos Estados Unidos não deve se transformar em democracia? O resultado da democracia na Arábia Saudita seria a repetição do Irã em 1953 (um regime populista com um viés antiimperialista) ou da Argélia alguns anos atrás, quando os "fundamentalistas" ganharam as eleições livres. Onde, então, nos posicionamos com razões pró e contra? O pacifismo abstrato é intelectualmente estúpido e moralmente errado -devemos nos posicionar contra uma ameaça. É claro que a queda de Saddam seria um alívio para a grande maioria da população iraquiana. E é claro que o islã militante é uma ideologia terrivelmente antifeminista etc. É claro que existe algo de hipocrisia em todos os motivos contra: a revolta deveria vir do próprio povo iraquiano; não devemos impor nossos valores a eles; a guerra nunca é uma solução etc. Mas, embora tudo isso seja verdade, o ataque é errado -o que o torna errado é quem o pratica. A censura é: quem são vocês para fazer isso? Não é guerra ou paz, é o correto "sentimento visceral" de que há algo terrivelmente errado com esta guerra, de que alguma coisa mudará irremediavelmente com ela. Uma das afirmações ultrajantes de Lacan é a de que, mesmo que a declaração de um marido enciumado sobre sua mulher (que ela dorme com outros homens) seja totalmente verdadeira, ainda assim seu ciúme é patológico; na mesma linha, poderíamos dizer que, mesmo que a maioria das afirmações nazistas sobre os judeus fosse verdadeira (eles exploram os alemães, eles seduzem garotas alemãs...), seu anti-semitismo ainda assim seria (e foi) patológico -porque suprime a verdadeira razão por que os nazistas precisavam do anti-semitismo para sustentar sua posição ideológica. E o mesmo deveria ser dito hoje a propósito da afirmação americana de que "Saddam tem armas de destruição em massa!" -mesmo que ela seja verdadeira (e provavelmente é, pelo menos até certo ponto), ainda assim é falsa em relação à posição da qual é enunciada. Todo mundo teme o resultado catastrófico do ataque americano ao Iraque: uma catástrofe ecológica de proporções gigantescas, um grande número de baixas americanas, um ataque terrorista no Ocidente... Dessa maneira, já aceitamos o ponto de vista americano -e é fácil imaginar que, se a guerra terminar logo, numa espécie de repetição da Guerra do Golfo de 1991, se o regime de Saddam se desintegrar rapidamente, haverá um suspiro de alívio universal mesmo entre os atuais críticos da política americana. Somos tentados a considerar a hipótese de que os EUA estão propositalmente fomentando esse medo de uma catástrofe iminente, contando com o alívio universal quando a catástrofe não ocorrer. Esse, porém, é possivelmente o maior perigo real. Quer dizer, devemos ter coragem para proclamar o contrário: talvez um mau resultado militar para os EUA fosse a melhor coisa que poderia acontecer, uma má notícia que forçaria todos os participantes a repensar sua posição. Em 11 de setembro de 2001 as torres gêmeas foram atingidas; 12 anos antes, em 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim caiu. O 9/11 anunciou os "felizes anos 90", o sonho de Fukuyama do "fim da história", a crença de que a democracia liberal havia vencido em princípio, de que a busca havia terminado, de que o advento de uma comunidade global liberal aguardava depois da esquina, que os obstáculos a esse final feliz ultra-hollywoodiano eram apenas empíricos e contingentes, bolsões de resistência localizados, onde os líderes ainda não haviam percebido que seu tempo se esgotara. Em contraste, o 11/9 é o principal símbolo do fim dos felizes anos 90 clintonianos, da próxima era em que novos muros estão surgindo por toda parte, entre Israel e a Cisjordânia, ao redor da União Européia, na fronteira EUA-México. Paira a perspectiva de uma nova crise global: colapsos econômicos, catástrofes militares, estados de emergência...

Pobreza ética


E, quando os políticos começam a justificar diretamente suas decisões em termos éticos, podemos ter certeza de que a ética é mobilizada para encobrir esses horizontes sombrios e ameaçadores. É a própria inflação de retórica ética abstrata nas recentes declarações de Bush (do tipo "O mundo tem coragem de agir contra o Mal ou não?") que deixa clara a absoluta pobreza ética da posição americana -a função da referência ética aqui é puramente mistificadora, ela serve simplesmente para mascarar as verdadeiras opções políticas, que não são difíceis de discernir.
Em seu recente livro "The War Over Iraq" [ed. Encounter, EUA], William Kristol e Lawrence F. Kaplan escrevem: "A missão começa em Bagdá, mas não termina lá. (...) Estamos à beira de uma nova era histórica. (...) Este é um momento decisivo. (...) Claramente isso vai além do Iraque. Vai mesmo além do futuro do Oriente Médio e da guerra ao terrorismo. Tem a ver com o tipo de papel que os Estados Unidos pretendem exercer no século 21". Só podemos concordar com isso: é efetivamente o futuro da comunidade internacional que está em jogo hoje -as novas regras que a vão regular, qual será a nova ordem mundial...
O que está acontecendo agora é o passo lógico seguinte à rejeição dos EUA ao Tribunal de Haia [Tribunal Penal Internacional]. O primeiro tribunal mundial permanente de crimes de guerra começou a funcionar em 1º de julho de 2002, em Haia, com o poder de combater o genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Qualquer pessoa, de um chefe de Estado a um cidadão comum, será passível de processo pelo TPI por violação sistemática de direitos humanos, incluindo assassinato, tortura, estupro e escravidão sexual; ou, como disse [o secretário-geral da ONU] Kofi Annan: "É preciso haver o reconhecimento de que somos todos membros da mesma família humana. Temos de criar novas instituições. Esta é uma delas. Este é mais um passo à frente na lenta marcha da humanidade para a civilização". No entanto, embora grupos de direitos humanos tenham saudado a criação do tribunal como a maior realização da Justiça internacional desde que os dirigentes nazistas foram julgados por um tribunal militar internacional em Nuremberg [que julgou entre 1945 e 1946 militares e políticos alemães derrotados na Segunda Guerra, por crimes contra a humanidade], o TPI ainda enfrenta firme oposição dos EUA, Rússia e China. Os EUA dizem que o tribunal infringiria sua soberania nacional e poderia levar a acusações de motivação política contra suas autoridades ou seus soldados trabalhando fora das fronteiras americanas, e o Congresso do país está até examinando uma legislação que autoriza as forças americanas a invadir Haia, onde o tribunal ficará sediado, caso os promotores acusem um cidadão americano.

Desvio retórico perverso


O paradoxo digno de nota aqui é que com isso os EUA rejeitaram a jurisdição de um tribunal que foi constituído com pleno apoio (e votos) dos próprios EUA! Por que então [o ex-ditador iugoslavo Slobodan] Milosevic, que hoje está em Haia, não teria o direito de afirmar que, já que os EUA negam a legalidade da jurisdição internacional do TPI, o mesmo argumento deve servir para ele? O mesmo vale para a Croácia: os EUA hoje exercem tremenda pressão sobre o governo croata para entregar ao tribunal de Haia alguns de seus generais acusados de crimes de guerra durante os conflitos na Bósnia -a reação, evidentemente, é: como podem pedir isso se eles mesmos não reconhecem a legitimidade do tribunal? Ou os cidadãos americanos são efetivamente "mais iguais que os outros"? Se simplesmente universalizarmos os princípios subjacentes à "doutrina Bush" [que estabelece as diretrizes da política externa e de segurança dos EUA], a Índia não teria o pleno direito de atacar o Paquistão? Este diretamente apóia e abriga o terror antiindiano na Caxemira e possui armas de destruição em massa (nucleares). Para não falar no direito da China de atacar Taiwan e assim por diante, com consequências imprevisíveis... Estamos conscientes de que nos encontramos no meio de uma "revolução silenciosa" na qual as regras não-escritas, que determinam a lógica internacional mais elementar, estão mudando? Os EUA censuram [o chanceler alemão] Gerhard Schroeder, um líder democraticamente eleito, por manter uma posição apoiada pela grande maioria da população alemã, além de, segundo pesquisas de meados de fevereiro, cerca de 59% da própria população americana (que se opõe ao ataque contra o Iraque sem a aprovação da ONU). Na Turquia, segundo pesquisas de opinião, 94% da população é contrária a permitir a presença de tropas americanas para a guerra contra o Iraque -onde está a democracia? Todo velho esquerdista lembra a resposta de Marx no "Manifesto Comunista" aos críticos que acusavam os comunistas de pretender minar a família, a propriedade etc.: é a própria ordem capitalista cuja dinâmica econômica está destruindo a ordem familiar tradicional (incidentalmente, um fato mais verdadeiro hoje do que na época de Marx) assim como expropriando a grande maioria da população. Na mesma linha, não são exatamente aqueles que hoje posam como defensores globais da democracia que a estão solapando de fato? Em um desvio retórico perverso, quando os líderes pró-guerra são confrontados com o fato brutal de que sua política está fora de sintonia com a maioria da população, eles recorrem à sabedoria comum de que "um verdadeiro líder lidera, não segue" -e isso vem de líderes geralmente obcecados pelas pesquisas de opinião... Os verdadeiros perigos são os de longo prazo. Em que reside talvez o maior perigo da perspectiva de ocupação americana no Iraque? O atual regime do Iraque é em última instância nacionalista e secular, sem ligação com o populismo fundamentalista muçulmano -é evidente que Saddam apenas flerta superficialmente com o consentimento muçulmano pan-árabe. Como seu passado demonstra claramente, ele é um governante pragmático que anseia por poder e que muda de alianças conforme seus objetivos -primeiramente contra o Irã, para tomar seus campos de petróleo, depois contra o Kuait, pelo mesmo motivo, atraindo contra si mesmo uma coalizão pan-árabe aliada dos EUA; o que Saddam não é é um fundamentalista obcecado pelo "grande Satã", disposto a explodir o mundo apenas para derrotá-lo. No entanto o que pode surgir em consequência da ocupação americana é precisamente um movimento muçulmano realmente fundamentalista e antiamericano, diretamente ligado a esses movimentos em outros países árabes ou países com presença muçulmana. Podemos supor que os EUA estejam conscientes de que a era de Saddam e seu regime não-fundamentalista está chegando ao fim e de que o ataque ao Iraque provavelmente é concebido como um ataque preventivo muito mais radical -não contra Saddam, mas contra o principal candidato à sucessão política de Saddam, um regime islâmico verdadeiramente fundamentalista. Dessa maneira, o círculo vicioso da intervenção americana se torna ainda mais complexo: o perigo é que a própria intervenção americana contribua para o surgimento do que os EUA mais temem -uma grande frente unida muçulmana antiamericana. É o primeiro caso de ocupação direta americana em um grande e importante país árabe -como isso não poderia gerar uma reação de ódio universal? Já podemos imaginar milhares de jovens sonhando em tornar-se homens-bomba e como isso obrigará o governo americano a impor um estado de emergência em alerta permanente... No entanto a essa altura não podemos resistir a uma tentação ligeiramente paranóica. E se as pessoas ao redor de Bush sabem disso? E se o tal "dano colateral" for o verdadeiro objetivo de toda a operação? E se o verdadeiro alvo da "guerra ao terror" for a própria sociedade americana, isto é, o disciplinamento de seus excessos emancipadores? Em 5 de março passado, no programa "Buchanan & Press" da rede NBC, foi mostrada na TV a foto do recém-capturado Khalid Shaikh Mohammed, o "terceiro homem da Al Qaeda" -um rosto maligno de bigodes, usando uma camisola de prisioneiro não identificada, entreaberta e com algo que se pareciam com hematomas não muito discerníveis (sugestão de que ele já havia sido torturado?), enquanto a voz rápida de Pat Buchanan perguntava: "Esse homem, que sabe todos os nomes e todos os planos detalhados de futuros ataques terroristas aos EUA, deveria ser torturado, para podermos arrancar tudo isso dele?".

"Sessões de ódio"


O horror disso era que a foto, com seus detalhes, já sugeria a resposta -não admira que a reação de outros comentaristas e ligações de espectadores tenha sido um avassalador "Sim!" -o que nos deixa nostálgicos dos bons e velhos tempos da guerra colonial na Argélia, quando a tortura praticada pelo Exército francês era um segredo sujo... Efetivamente, isso não era quase a concretização do que George Orwell imaginou em "1984", em sua visão das "sessões de ódio", nas quais exibem fotos dos traidores dos cidadãos, que devem vaiá-los e insultá-los?
E a história continua: um dia depois, em outra TV, a Fox, um comentarista disse que seria permitido fazer qualquer coisa com esse prisioneiro, não apenas privá-lo do sono, mas quebrar seus dedos etc. etc. porque ele é "um pedaço de lixo humano, sem qualquer direito". Essa é a verdadeira catástrofe: que essas declarações públicas sejam possíveis hoje.
Devemos portanto estar muito atentos para não lutar falsas batalhas: os debates sobre quão ruim é Saddam, mesmo sobre quanto custará a guerra etc., são debates falsos. O enfoque deveria ser para o que efetivamente acontece em nossas sociedades, sobre que tipo de sociedade está surgindo em consequência da "guerra ao terror". Em vez de falar sobre agendas conspiratórias ocultas, deveríamos mudar o enfoque para o que está acontecendo, que tipo de mudanças está ocorrendo aqui e agora. O resultado final da guerra será uma alteração de nossa ordem política.
O verdadeiro perigo pode ser melhor exemplificado pelo verdadeiro papel da direita populista na Europa: introduzir certos temas (a ameaça estrangeira, a necessidade de limitar a imigração etc.), que depois foram silenciosamente adotados não apenas pelos partidos conservadores, mas até pela política de fato dos governos "socialistas". Hoje a necessidade de "regulamentar" a situação de imigrantes etc. faz parte do consenso da corrente dominante: Le Pen realmente abordou e explorou problemas reais que preocupam as pessoas.
Somos quase tentados a dizer que, se não houvesse Le Pen na França, ele precisaria ter sido inventado: é a pessoa perfeita a quem amamos odiar, e esse ódio garante o amplo "pacto democrático" liberal, a identificação patética com os valores democráticos de tolerância e respeito à diversidade -no entanto, depois de gritar "horrível! Que obscuro e incivilizado! Totalmente inaceitável! Uma ameaça a nossos valores democráticos básicos!", os liberais ultrajados passaram a agir como um "Le Pen de face humana", a fazer a mesma coisa de modo mais "civilizado", seguindo as linhas do "mas os populistas racistas estão manipulando as preocupações legítimas das pessoas comuns, então precisamos tomar certas medidas!"...
Temos realmente aqui uma espécie de "negação da negação" hegeliana pervertida: em uma primeira negação, a direita populista perturba o consenso liberal asséptico ao dar voz à dissensão apaixonada, argumentando claramente contra a "ameaça estrangeira"; em uma segunda negação, o centro democrático "decente", no próprio gesto de pateticamente rejeitar essa direita populista, incorpora sua mensagem de maneira "civilizada" -enquanto isso, todo o campo de fundo das "regras não escritas" já mudou tanto que ninguém nem sequer percebe, e todo mundo fica aliviado de que a ameaça antidemocrática tenha terminado.
E o verdadeiro perigo é que algo semelhante acontecerá com a "guerra ao terror": "extremistas" como [o ultraconservador secretário da Justiça norte-americano] John Ashcroft serão descartados, mas seu legado permanecerá, imperceptivelmente entrelaçado no tecido ético invisível de nossas sociedades. Sua derrota será seu triunfo final: eles não serão mais necessários, já que sua mensagem será incorporada à corrente dominante.